domingo, 29 de julho de 2012

Gore to gore




Morta! Morta! Águas tristes é sangue, e isso me excita durante a noite!
Morta! Morta! Águas tristes é sangue, e isso me excita inocentemente!
Morta! Morta! Águas tristes é sangue, e isso me excita durante a noite!
Morta! Morta! Águas tristes é sangue, e isso me excita inocentemente!
Ahh!
Todo tempo penso nessa maldita, ouço ela me dizendo
"Venha  meu macho, eu quero seu osso"
Eu quero torturá-la e estourar sua vagina na noite!
Aos gritos verei seu corpo esquartejado na madrugada!
Deixe fazer meus filhos, agora lembro de ser bastardo... Ahh!
Morta! Morta! Águas tristes é sangue, e isso me excita durante a noite!
Morta! Morta! Águas tristes é sangue, e isso me excita inocentemente!
Morta! Morta! Águas tristes é sangue, e isso me excita durante a noite!
Vou enfiar minha mão no seu útero e abortar essa noite!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ser



Não há guerras quando o inferno toca o céu, somente o ponto arquimediano de Azrael.


Se dourasse as estrelas com esse privilégio, a populosa metrópole de São Paulo teria um céu mais limpo e verdadeiro. Uma sonoridade horrenda a cada passo, uma visão purpurinosa, ilógica. Rumando para oeste, nos morros mais afastados confundido com um precipício avista-se um casebre por cima de outros. De dia tudo é feira e conversa, mas a noite... é culto cristão e depois silêncio. No beco que “jesus morre” o cachorro dorme, na laje debaixo de um tapete velho o gato também. Não temos muitos urubus, somente ratos na espreita.



Olhando um destes casebres, aquele de madeira sobre palafitas com uma pintura erodida azulada. Metendo-se pelas frestas das tábuas é possível avistar uma luz amarelada e ouvir o ruído de um som, certamente a FM 93,8 com aquelas músicas romântica oitentistas e o locutor com voz de pastor falando de amor. O seu João está sentado em uma cadeira de ferro, destas de barzinho, com as mãos sobre uma mesa de madeira velha na qual também está o rádio toca-fitas e uma garrafa de café amarela encardida. Um cheiro mofo e um clima de angústia na casa. Na geladeira com a porta segura por uma liga de pneu amarrada, só há água armazenada em garrafas pet. Caixas espalhadas guardam poucas roupas velhas, muitas quinquilharias e bugigangas aparentemente sem utilidades e algumas memórias.



Seu João é um homem só. Talvez este seja o problema das metrópoles, muitas pessoas estão sempre olhando (somente) para sí. Não há ninguém senão ele(a). Mas são por muitas questões que as pessoas vivem sozinhas... E isso não significa que todas as pessoas solitárias das metrópoles vivam como o seu João. Algumas são solitárias luxuosamente. Outras sozinhas amorosamente e por ai vai... Mas ele é singular. É um cara filho da puta no sentido mais universal da palavra. Vive desempregado, por uma opção preguiçosa. As vezes fica dias sem comer nada, sente que vive no limite humano. Masturba-se todas as noites nas quais fica acordado até de manhã, mas não gosta de ter relações sexuais. Aliás, ele teve apenas uma esposa que morreu acidentalmente caindo em um esgoto. Pouco se sabe sobre esta mulher. Gosta de dormir durante o dia para evitar as pessoas.

Assim sendo se esquiva o seu João.



sábado, 7 de janeiro de 2012

INVARIÁVEL MATERIALIDADE

(...) Então nasce nele o estranho imperativo: ou parar de escrever, ou escrever como um rato... Se o escritor é um feiticeiro é porque escrever é um devir, escrever é atravessado por estranhos devires que não são devires-escritor, mas devires-rato, devires-inseto, devires-lobo, etc. Será preciso dizer por quê. Muitos suicídios de escritores se explicam por essas participações anti-natureza, essas núpcias anti-natureza. O escritor é um feiticeiro porque vive o animal como a única população perante a qual ele é responsável de direito (...) Deleuze & Guattari. Um trecho solto de Mil Platôs - Capitalismo e Esquizofrenia (1980). Uma epígrafe no vazio.



1. É detestável pensar no cotidiano como ele é construído, endurecido e submergido no tempo. É uma visão cruzada para elementos concretos e compreensíveis das criaturas que inventam mundo-perverso. Sofria bastante quando via calçadas imundas no centro, um meio-fio podre e lodo escurecido onde não pude debruçar-me. Padecia por não estar ali, dentro da imundície como qualquer larva que se relacionava com as outras. Era um existido que ecoava desespero somente em mim, a sujeira a qual os meus iguais não poderiam participar porque se sentiam lavadinhos mas haviam entupido todos os seus buracos com as materialidades, não lhes sobravam nem o anus onde a merda estava travada na entrada. Foi um evento pouco significativo, porém, oferecia a liberdade de esquivar-me da sociedade vomitada em ostentação. Era preferível mergulhar naqueles detritos mastigados e defecados. Isso não é um apelo a imundície.



2. Afundei denso. Fluía merda, e ela se fazia presente em todos os pulmões que absorviam o odor fétido flutuando sobre as nossas cabeças. Eu olhava com o corpo inclinado para frente e orgãos pendurados por fios, observava a geometria que ligava os indivíduos; linhas horizontais, verticais e uma fresta de fuga. Eu fugindo da materialidade, enxergava só materialidade. Era só aquilo que existia no vivido, no agora; metamorfoseado sem questionamentos, havia um circulo de indivíduos e um ordenamento deles em minha mente. Não era por acaso, mas era apenas uma fatia da imagem. O ambiente se restringia à uma coluna de concreto, degraus sombreados com quadriculados e muita imundície. O resto era meta-física diluída.




3. A coluna vertebral já ia bem amolada, o corpo estava pedestalizado neste obelisco. A traquéia demasiada ácida sentia cada saliva seca migrando. Um mal-estar proliferava no organismo, o sangue circulava morno. Esgotamento e enfrentamento. Uns quatro passos abaixo dos degraus e me apoiei na coluna de concreto; pensei o que constituía aquele instante, o gesto, naquele espaço vazio-social cada vez mais um todo-material. É como se o instante estivesse condenado às linhas que distribuíam os indivíduos que ao mesmo tempo se manifestavam através de uma linguagem. O instante indicava uma manifestação superior aos nossos pérfidos pensamentos. Um momento intenso sem preocupações mergulhado nas fezes. A memória se esvaziava e sedia lugar ao momentâneo, este se prolongava pela profundidade que mergulhava na reflexão das representações materializadas. Na realidade não é possível definir se são representações materializadas ou materializações representadas! Diria que enquanto vermes e micróbios envolvem o ambiente no espaço pútrido, a fala funciona como um mecanismo que possui um ponto de partida, seja ele um simples cumprimento ou um diálogo extenso. O ponto em discussão é para onde esta fala migra, se migra ou se possui um ponto de impacto que atinge o sujeito. Não creio que ela seja inerte, as fezes não são imóveis, não se originam da digestão: fluxo ordenado de idéias, posteriormente paralisadas no fundo estomacal. É necessário ter um caos cá adentro para gerar uma merda. Diria então que esta conexão dos indivíduos é uma fala, a linguagem dos materializados, daqueles que falam muita merda. Lembro que esta conexão a qual me refiro agora não é geométrica, mas aleatória, se enfia em qualquer buraco ou pode sair de qualquer orifício, como fezes. Ela parece fluir no popular. Não é uma questão de desperdício do discurso, mas é a assinatura do óbito histórico?


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

CISQUELZ



ele parecia outra coisa.
coisa melhor.
tinha nome diferente.
olho diferente.
o corpo
o andar
bem desconforme.
como se fosse a gente
pelo avesso.
isso
Era o senhor krauze.

alberto lins caldas

Fui para Cisquelz
Bom seria se esse lugar existisse
Mas eu estive em Cisquelz
E vi quase tudo que tinha lá
Cisquelz é um local pequeno
Mas densamente povoado
“Preguiçosos bêbados vagabundos”
As pessoas esqueceram que vivem em Cisquelz
Parece que vivem sem passado
Por isso elas vivem normalmente
Sempre desocupados e sujos
Exceto “meninas” com vaginas ocupadas

Ninguém compra nada em Cisquelz
Não tem comércio nenhum
Não tem poder centralizado
Não tem Energia
Não tem lei
Não tem dinheiro
Não tem estado
Não tem religião
Não tem deuses
Não tem “moral”
Não tem respeito
Ninguém é de ninguém em Cisquelz

Eu não vi ninguém triste em Cisquelz
Todos estavam satisfeitos
A alegria se mostrava no modo canibal de ser
Quando se comia o feto recém abortado
Quando velhos sangravam o anus com pedras
Quando faziam sexo com animais
Quando homens se relacionavam com crianças
Quando crianças matavam mulheres
Quando mulheres queimavam homens
Era uma festa
Mas festa sem musica e dança
Apenas carnificina e satisfação

Desconheço a língua das pessoas de Cisquelz
Eles falam apenas por necessidade
Mas eu não ouvi uma palavra em Cisquelz

Eles não olham para trás nem para o lado
Muito menos para frente
Passam por cima de tudo

Para eles tanto faz o dia ou a noite
Seja sol chuva ou frio
Eles não dão a mínima

Dão o seu máximo no que querem fazer
E não fazem nada... Assim sendo é Cisquelz.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A ARTE DO HOLOCAUSTO











Em trilhos faiscantes o trem corta a floresta
Leve abrasamento em uma terra gélida
Dentro dessa máquina que percorre intensa
Um amontoado de humanos
Um miserável está com fome, frio e medo
Todos parecem estar com fome, frio e medo
Mas eu só vejo esse desgraçado
Meus olhos não podem compreender todos
Por isso eu vigio esse velho judeu
Eu posso assistir o respirar dele
O olhar assombroso para os lados
Ansiando uma saída qualquer
O tocar frígido em seu corpo de frio
A fraqueza instaurada na face deprimida

Ao atingir a zona de força
Todos descem de cabeça baixa
Parece um plano ou tudo planejado
Todos andam ordenados para o extermínio
Nenhuma reação contra
Eu esperei o velho miserável
E o acompanhei até o calabouço de Belzec
Mostrei a ele as paredes sujas e odiosas
E disse: Uma vez dentro, nunca mais fora
E eu vi ninguém se mexia
Parecia que esperavam o batismo do odor insano
Desgraça consumada

Centenas de cadáveres aos meus olhos
Campo intensamente assolado
Largados assim como a imundície
Perdem-se histórias e tornam-se uma estatística
Apenas dados para constituir o holocausto
A ser visto com um olho só exaurido
O mesmo olho que eu compreendi o velho falecido

Aos que escapam, anomalias que ficam
Aos que resistem, a eliminação.
Aos que contam a história... O nazismo.








domingo, 18 de outubro de 2009

Enérgica desgraça

O mestre da miséria saiu de sua caverna esta manhã
E trouxe para o mundo
Um punhado de destruição e fome
Ele promove as guerras antes do anoitecer
E quando a noite chegar
O homem estará em conflito consigo mesmo por não ter inimigos

Aquele que saiu ontem em busca de água
É o mesmo que hoje bebe sangue

A cada aparição do mestre
Ocorre uma mudança na história humana

A prole corre! fugindo do horror
O mestre espalha a desgraça
Trevas para a luz
Vermes se juntam a fome
Homens devorando homens

domingo, 16 de agosto de 2009